terça-feira, 9 de junho de 2015
‘Só tem Lula em 2018 se governo der certo’, diz líder
(© Fornecido por Estadão O deputado e vice-presidente do PT José Guimarães (SP)
Às vésperas do 5º congresso do PT, caciques do partido passaram a fazer coro com a presidente Dilma Rousseff e saíram em defesa do ajuste fiscal promovido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, amplamente criticado por grupos petistas. Em entrevista ao Estado, o vice-presidente nacional do PT e líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), também defendeu o ministro e disse ser impossível dissociá-lo da presidente. "É uma imbecilidade separar o Levy do governo e o governo do Levy ou da Dilma. Não tem Dilma sem Levy", afirmou o petista, que pretende levar ao encontro do partido, no final desta semana, discurso de apoio aos cortes promovidos por Levy.
Para Guimarães, equilibrar a economia é essencial para garantir as eleições de 2016 e 2018. O líder reconheceu erros do PT, defendeu que o partido adote uma plataforma "mais à esquerda" e protagonize debates polêmicos para o governo como a taxação de grandes fortunas. "O Estado brasileiro financiou todas as políticas sociais dos últimos 12 anos. Agora esgotou, não temos como prosseguir. O cobertor acabou".
Estado - Na pior crise da história dos 35 anos do PT, que partido sairá deste 5º congresso: mais governista ou mais independente do governo Dilma?
Penso que esse congresso tem de dar conta dos grandes desafios que temos de superar. É verdade que o PT vive o pior momento de sua história. A direita e setores conservadores conseguiram consolidar um grande desgaste da imagem do PT perante a sociedade. O PT falhou. Foi ineficiente e incompetente neste enfrentamento. Nos pegaram com calças curtas. Não dá para comparar com o Mensalão, não tem nada a ver. Tem um corolário de questões, são 12 anos de governo e quem governa tem desgaste. Tem algumas contradições entre o programa executado pelo governo e o programa partidário. O partido se afastou em demasia de sua base original, mas não se trata em voltar às origens. Tem de recuperar nossa base social histórica, atualizando o programa. Todos os partidos de esquerda que governaram no mundo, no meio do caminho, eles fracassaram. O PT tem tudo para não fracassar, desde que saiba superar este momento. Nós nos burocratizamos em demasia, adotamos na vida interna do PT, muitas vezes, as velhas práticas dos demais partidos, sem relação democrática com os diretórios municipais e o financiamento privado nas campanhas. O PT nasceu para ser diferente, não nasceu para ser igual aos outros. A sociedade aceita todas as patifarias que os outros fizeram, mas não aceita a do PT. Esse é a verdadeira crise que o PT está vivendo. Minha preocupação no momento não é com o governo, é com o PT. Já já o governo sai desse momento difícil. Governos passam e o PT fica. Temos de desburocratizar o PT, adotar mecanismos de controle interno, adotar auditoria interna para evitar malfeitos. Não vou identificar um ou outro, mas é o conjunto da obra. Ou adotamos mecanismos de incorporar a juventude nas nossas ações ou não tem saída. O PT envelheceu e temos de ter os jovens dentro do PT. Não é que o PT vai acabar, ninguém acaba o PT. Mas nós não podemos ser um partido qualquer. Quero um partido mudado, mas sem mudar de lado.
Estado - A presidente Dilma disse que as críticas a Levy são injustas e que ele não pode ser tratado como "judas". Como controlar o movimento "Fora Levy"?
Não estou preocupado se vão vaiar o Levy. Coitado do Levy. Não existe Levy sem Dilma e Dilma sem Levy. O Congresso do PT não tem que estar preocupado com isso, tem que estar preocupado com o partido. Mas não temos como controlar o PT, o PT é assim. Em 2002, na aliança com José Alencar, vi muitos gritando fora Alencar. Temos de entender isso como insatisfações momentâneas. Não podemos perder o prumo. É uma imbecilidade separar o Levy do governo e o governo do Levy ou da Dilma. Não tem Dilma sem Levy. O ajuste é necessário não como fim em si mesmo. É o início de um fim. E qual é o fim? O crescimento. Temos de discutir o governo, mas personificar pessoas no governo não é o correto.
Estado - A presidente se arrisca muito ao sair em defesa de Levy? Corre o risco de perder apoio do PT?
Não tem chance de a Dilma perder o apoio do PT. O PT jamais deixará de ser solidário com a Dilma. Tem uma ou outra crítica, mas qual o problema em ter? O que não pode é achar bode expiatório. Tem problema macroeconômico? Tem, mas não venha atribuir ao Levy, porque quem indicou o Levy foi a Dilma. A mesma coisa da aliança. Sem ela a gente não governa. A gente tem é de requalificar essa aliança, que está meio falida, mas não ter de se acabar. A gente tem de ter a governabilidade.
Estado - A atuação do ex-presidente Lula para reverter as críticas a Levy não está vindo muito tarde?
O Lula sempre defendeu, agora ele está mais explícito. Ele sempre defendeu a Dilma e, evidentemente, o Levy. Nós temos de defender o ajuste como o único caminho possível para retomada, não para ser um fim em si mesmo. Por quê? Nós erramos, fizemos uma política de desoneração correta para os setores estratégicos, principalmente para a indústria de exportação, mas, depois, erramos na dose, empurramos tudo. Essa política de desoneração desenfreada deu no que deu. Agora tem de corrigir, mas como é que equilibra? O ajuste é duro, não retirou direito, corrigiu distorções e agora teremos uma outra agenda para retomar. Foi assim que o Lula fez. Foi pau no Palocci. Ninguém lembra disso? O Lula patrocinou o maior programa de distribuição de renda. Essas medidas amargas numa economia capitalista precisa delas para poder retomar. É saber dosar e identificar os setores que não podem sofrer cortes. As medidas do ajuste fiscal foram mal anunciadas. As medidas foram de correções.
Estado - A proposta de taxação das grandes fortunas pode prosperar neste Congresso?
O Estado brasileiro financiou todas as políticas sociais dos últimos 12 anos, o Estado foi pai e mãe de tudo. Agora esgotou. Não temos como prosseguir, nem temos mais recursos para avançar nessas políticas porque o cobertor acabou. Só tem uma saída que as grandes economias do mundo fizeram: colocarmos o dedo na ferida das questões que nunca fizeram com medo. Tipo reforma tributária, taxar as grandes fortunas e heranças, criar uma contribuição social para a saúde, vinculando a saúde aos entes federados. Só tem esse jeito. Por que não discutir isso?
Estado - Se o governo encampar essa proposta da taxação de grandes fortunas ele pode reconquistar essa base da qual o partido se distanciou?
Nos momentos de crise, todos precisam doar-se. Não é só o problema de se recompor com a base social. É necessário porque, senão, o Brasil não tem dinheiro para fazer seus investimentos. Fizemos a revolução social nos governo Lula e primeiro mandato da Dilma. As pessoas agora têm outras aspirações: universidade em todo canto, Fies em todo canto. Como vamos fazer isso? Tem que tirar do andar de cima. O andar de cima que nenhum governo teve coragem de mexer desde os militares.
Estado - O senhor acredita que agora é o momento de o PT resgatar a proposta de Constituinte exclusiva para a reforma política?
O PT tem que ter uma plataforma independente do governo. Vou chegar no 5º Congresso dizendo isso. Uma plataforma à esquerda, que fique à esquerda do governo para ajudar o governo, para tensionar, sustentar e defender o governo, mas com propostas ousadas que até agora não teve como implementar. A democracia está numa encruzilhada. Este modelo atual de financiamento de campanha compromete a democracia e os partidos. Também não tenho ilusão com este Congresso. Temos que zerar o jogo. Termina isso e já já o PT puxar como plataforma de mobilização social uma Constituinte exclusiva para debater a reforma política.
Estado - Esta plataforma à esquerda não entra em choque com o governo?
Qual o problema? O governo não tem força para bancar o projeto das grandes fortunas. Qual o problema de o PT assumir a liderança?
Estado - Isso não isola a presidente?
Não. Qual o papel do PT? É ser protagonista das propostas do governo, sobretudo daquelas mais ousadas. O PT tem que mudar o comportamento em relação ao governo. Tem que tensionar. O PT precisa ter sua plataforma própria, independente do governo. O PT vota, sustenta o governo. Agora, ele tensiona para o governo avançar. O PT tem que liderar a coalizão, nas ideias e na sustentação. Não pode ficar sem ter ideias. E o congresso do PT tem que colocar o carro na frente, radicalizar, no bom sentido, mudar sem mudar de lado.
Estado - Como fazer para que a presidente não fique isolada ao tomar medidas de ajuste fiscal, fazer concessões?
Como se resolve? Como fizemos com Lula. Votar 100% com ela aqui dentro (no Congresso), ainda que as medidas sejam amargas e tensionar na relação com a sociedade para tomar outras medidas.
Estado - Então existe um PT para a sociedade e um outro PT no Congresso?
É claro que o governo tem que sustentar o governo aqui dentro e tem que ter o PT dialogando com a sociedade, atuando nas duas vertentes.
Estado - Mas isso não é contraditório?
Pode ser, mas quando você tem uma estratégia bem definida, não é.
Estado - O senhor acredita que esta recuperação do PT vai se dar com o carro em movimento ou é preciso se recolher?
Em movimento. É na crise, na tensão. Não pode se recolher. Debate conjuntura, reforma suas instâncias, retoma diálogo com a base, incorpora segmentos da juventude.
Estado - O PT tem quadros para 2018, fora o ex-presidente Lula?
Acho que tem. Essas projeções precipitadas não dão em lugar nenhum. A Dilma está começando. Tem quatro anos de governo ainda. Tem tempo de sobra para se recuperar. Falta muito tempo para 2018. Tem vários nomes: (Aloízio) Mercadante (ministro da Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa), (Fernando) Haddad (prefeito de São Paulo), dependendo do desempenho dele em São Paulo. E podemos discutir o candidato dos aliados também. Por que não?
Estado - O PT cogita ceder a cabeça da chapa presidencial?
Nem se cogita e provavelmente alguns vão dizer que estou fazendo loucura. Mas por que não?
Estado - Existe espaço para diálogo com o PMDB?
Tem que ter. Tem que chamar o Renan (Calheiros, presidente do Senado) e o (Eduardo) Cunha (presidente da Câmara), e dizer o seguinte: qual o rumo? Vocês querem chegar aonde? Tem que sentar e conversar. Tem outra governabilidade que o governo precisa se dar conta, a governabilidade social. O governo tem que agir com os movimentos sociais. Esta foi a base central que sustentou o governo Lula na época da ação penal do mensalão. Tem que dialogar e introduzir uma pauta deles no governo. E o terceiro eixo: o PT, enquanto partido de esquerda, tem que ajudar a formatar uma frente de esquerda, uma frente ampla de mobilização por reformas profundas na sociedade brasileira.
Estado - Diante da crise vivida hoje pelo partido, como o PT pode atuar para não sair ainda menor em 2016?
O caminho é fazer essas mudanças que estou falando agora. Temos que fazer uma coisa para ganhar a eleição: economia voltar a crescer. Se a economia estiver bem, tudo mais se resolve. No centro de qualquer disputa eleitoral, o que pesa mesmo é a economia. Não é corrupção. Até agosto você vai ver o clima. Essa agenda do governo está muito forte. O governo saiu das cordas e está tomando iniciativas positivas para o País.
Estado - Nas últimas semanas algumas correntes divulgaram cartas. Dilma será bem vinda ao congresso do PT?
Se a Dilma for ao congresso, ela será aplaudida de pé. Conheço o PT. Quando Lula fez a reforma da previdência, vi o pessoal quebrando tudo aqui dentro, xingando a bancada. (Mas), quando chegava aos congressos do PT era ovacionado.
Estado - Mas Lula tem um discurso e um carisma que Dilma não tem.
Não vai estar lá a base do PT. Vão estar os principais dirigentes. É do Guimarães para cima. Ela vai ser aplaudida de pé. Vai ter gente que pode até botar uma faixinha lá canto "Fora Levy", é um direito. Mas, quando ela chegar, vai ser aplaudida de pé. Anotem e vocês me cobrem. Só tem Lula em 2018 se tiver Dilma em 2016, 2017, se o governo der certo. E vai dar. O pior já passou.
(Fonte MSN)
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